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24/07/2021 às 09:00

Jovens jogadores de futebol mantidos em cárcere privado relatam ‘choque’

 

(Créditos de imagem: Reprodução )

Jovens que tinham o sonho de ser jogadores de futebol e eram mantidos em um sítio em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, se disseram chocados com a prisão do responsável pelo local, Jorge Valnei dos Santos nesta quinta-feira (22).

É a segunda vez que Valnei é preso, segundo a polícia por manter em cárcere privado jovens de vários estados com a promessa de levá-los a clubes de futebol. Parentes dos jovens ainda procuram saber o que vai acontecer a seguir.

Vindos principalmente do Norte do País, de estados como Pará e Amazonas, muitos dos 17 resgatados pela polícia e pelo Conselho Tutelar na quinta-feira (22) depositaram suas esperanças na possibilidade de um teste nos principais clubes do Rio.

Para isso, os pais pagavam de R$ 400 a R$ 500 para Jorge ficar responsável pelos garotos, em um sítio em Xerém, retendo todos os documentos dos jovens, segundo a 61ª DP (Xerém).


A polícia estima que Jorge Valnei tenha arrecadado R$ 100 mil, e investiga se ele comandou o esquema de dentro da cadeia, com ajuda de outras pessoas ainda não identificadas.

Jorge, que já havia sido preso pelo mesmo crime em 2020, não possui registro para atuar como agenciador.

Eu fico pensando, poxa, será que eu vou poder retribuir todo esse custo, né, esse valor? Até comentei com a minha mãe, falei que eu ia lutar, batalhar, pra dar um futuro melhor pra minha família porque a dificuldade que a gente passa não é nada fácil lá em Manaus, e a gente não tem tanta oportunidade”, disse Paulo Vitor Sanches, um dos rapazes resgatados pela polícia.

“Eu estou em choque, praticamente em choque, porque é um sonho meu. É um sonho que eu saí da minha casa pra tentar realizar, pra tentar ajudar minha família”, afirmou Wesley Silva, de 19 anos.

Apesar das dificuldades e da incerteza sobre o futuro, eles não pensam em desistir.

“Não é só por causa que ocorreu isso que eu vou desistir, né ? Vou levantar a cabeça e correr atrás, né?”, afirmou Luiz Henrique de Castro, de 18 anos.

“Desistir jamais, né? Eu acho que lá na frente tem algo muito grandioso pra mim me esperando ainda”, reforçou Paulo Vitor.

Responsáveis sem notícias

Os responsáveis de jovens menores de idade que foram resgatados ainda não tem notícias se seus filhos vão continuar no Rio de Janeiro ou se vão voltar para seus estados de origem.

Pais e responsáveis legais disseram que mantinham contato com os jovens e com Jorge. Segundo eles, não havia sinais de maus tratos ou de manutenção deles em cárcere privado.

“Ele foi indicado por uma professora aqui. Eu estava pagando, conversando com ele direitinho, e não sei o que está acontecendo. Se o negócio está irregular, pega todos os menores de idade, pega o dinheiro e manda esses meninos de volta. É melhor do que deixar desse jeito”, afirmou Francisco de Assis Souza Lima, pai de um jovem de 17 anos do Pará, que não quer ver o sonho do filho de jogar futebol prejudicado.

“A molecada não tem nada a ver isso. Já que está tudo errado, manda esses meninos de volta”, desabafou.

Dona Maria Eunice de Freitas, avó e responsável legal por um jovem de 17 anos, que também veio do Pará, disse que estava muito triste com o que aconteceu com o neto.

Segundo ela, que assumiu a guarda do jovem depois da morte do pai, uma pessoa no Pará intermediou para que o jovem fosse para o Rio de Janeiro. A avó do adolescente diz que ele quer ficar no Rio para tentar um teste, como prometido por Jorge.

“Eu estou aguardando. Ele falou que, se for para esperar pelo conselho, teria que esperar duas semanas. Por ele, ele quer voltar para o alojamento e seguir em frente para realizar um sonho que tem desde criança. Eu falava com ele, com o professor dele todos os dias. Eu estou muito triste porque ele vai voltar”, disse dona Maria Eunice.

Procurado, o Conselho Tutelar de Duque de Caxias afirmou que os jovens do sítio foram levados para um abrigo no município. Um documento inicial será emitido, pedindo a volta dos jovens às suas casas.

A previsão inicial é que a Vara da Infância e Juventude envie os autos ao Ministério Público, que vai avaliar o pedido. Só então a Justiça vai decidir se os jovens voltarão para seus municípios de origem.

O Fluminense e um clube de Nova Iguaçu, também na Baixada Fluminense, já entraram em contato com o Conselho tutelar para abrigar os jovens. 

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